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Procurement de serviços criativos e intangíveis

Desafios e estratégias eficazes

No universo das compras corporativas, os serviços criativos e intangíveis representam uma das áreas mais desafiadoras para os profissionais de procurement. Diferentemente da aquisição de bens tangíveis, onde métricas claras, padrões objetivos e benchmarks de mercado são amplamente disponíveis, o procurement de serviços criativos — como design, publicidade, consultorias, branding, produção de conteúdo e inovação — exige abordagens mais subjetivas, criteriosas e adaptadas à realidade dinâmica de cada negócio.

Entendendo o valor dos serviços intangíveis

Inicialmente, é fundamental compreender o valor que os serviços criativos agregam às organizações. Ainda que não sejam palpáveis, eles influenciam diretamente a percepção da marca, a experiência do cliente e a diferenciação competitiva no mercado. Portanto, sua aquisição precisa ir além da simples busca pelo menor preço, envolvendo critérios qualitativos que assegurem a entrega de valor a médio e longo prazo.

Além disso, muitas dessas soluções têm caráter estratégico. Um redesign de marca, por exemplo, pode reposicionar uma empresa no mercado. Já uma campanha de marketing bem executada pode gerar retorno sobre investimento (ROI) significativo, mesmo que esse impacto leve tempo para ser percebido.

Diferenças cruciais entre compras tradicionais e criativas

Por outro lado, aplicar as mesmas métricas utilizadas para aquisição de insumos diretos ou equipamentos industriais em serviços criativos pode ser ineficaz. Enquanto o procurement tradicional lida com quantidades, especificações técnicas e prazos padronizados, os serviços criativos exigem avaliação subjetiva de propostas, entendimento profundo do escopo e relacionamento mais colaborativo com os fornecedores.

Ademais, o ciclo de vida desses serviços é frequentemente não-linear. Uma campanha pode ser reconfigurada várias vezes durante sua execução. O escopo pode evoluir conforme testes e insights são obtidos. Assim, processos rígidos de compras precisam ser ajustados para permitir flexibilidade, criatividade e inovação.

Os principais desafios enfrentados pelos profissionais de compras

No dia a dia das áreas de procurement, alguns obstáculos surgem de maneira recorrente. O primeiro deles é a dificuldade de mensurar valor percebido. Como justificar internamente que uma agência cobrou o dobro da concorrente, mesmo entregando resultados mais alinhados à identidade da marca?

Outro entrave está na definição de escopo. Serviços criativos raramente vêm com especificações imutáveis. Isso abre margem para discussões sobre entregáveis, revisão de prazos, aumento de custos e desalinhamento de expectativas. Consequentemente, surgem conflitos e frustrações que poderiam ser evitados com uma abordagem mais consultiva e integrada desde o início do processo.


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Estratégias para uma contratação mais assertiva

Felizmente, existem práticas que otimizam significativamente o procurement de serviços intangíveis. Em primeiro lugar, é recomendável que o comprador atue em conjunto com a área requisitante desde o início da necessidade. Assim, é possível entender os objetivos do projeto, os critérios de qualidade esperados e os recursos disponíveis.

Logo depois, a elaboração de briefing estruturado é essencial. Quanto mais claras forem as expectativas, entregas esperadas e métricas de sucesso, maior a probabilidade de encontrar fornecedores alinhados com as necessidades do projeto. Um briefing eficiente também reduz retrabalhos e favorece a objetividade na avaliação das propostas recebidas.

Como selecionar fornecedores criativos de forma eficiente

Ao avaliar agências e consultorias criativas, a experiência anterior é um fator relevante, mas não o único. Cases de sucesso, entendimento do setor de atuação do cliente, capacidade de inovar e adaptabilidade são diferenciais competitivos que devem pesar na escolha.

Por sua vez, realizar pitchs controlados com critérios definidos ajuda a padronizar comparações. Evite solicitar apenas apresentações estéticas: crie parâmetros objetivos para avaliar aderência conceitual, estratégia de execução, originalidade da proposta e sinergia com os valores da marca.

Avaliação de desempenho: como medir serviços criativos?

Depois da contratação, acompanhar a performance do fornecedor é outro grande desafio. Aqui, a definição de KPIs qualitativos e quantitativos no contrato pode fazer toda a diferença. Métricas como nível de engajamento, aderência à estratégia, cumprimento de prazos, proatividade e satisfação dos stakeholders devem ser combinadas com indicadores de resultado tangível.

Entretanto, lembre-se que nem todo retorno será imediato. Em projetos de branding ou inovação, por exemplo, o impacto pode ser percebido apenas no médio prazo. Portanto, é essencial alinhar esses pontos com os stakeholders para evitar cobranças desalinhadas.

O papel da governança e da gestão de contratos

À medida que a empresa se relaciona com múltiplos fornecedores criativos, a gestão contratual e a governança do portfólio de serviços se tornam indispensáveis. É preciso acompanhar não só o cumprimento de prazos e custos, mas também garantir que os serviços contratados estejam contribuindo estrategicamente para os objetivos da organização.

Nesse sentido, a criação de comitês multidisciplinares de avaliação, revisões periódicas e políticas de compliance bem estruturadas podem ser aliados importantes. Além disso, manter registros históricos de performance dos fornecedores ajuda a embasar futuras decisões com dados reais e consistentes.

O procurement como parceiro estratégico da inovação

De modo geral, as áreas de compras que conseguem atuar como parceiras estratégicas do negócio tendem a obter melhores resultados na contratação de serviços criativos. Quando o procurement participa desde o planejamento do projeto e entende a linguagem criativa, ele contribui com sua expertise em negociação, mitigação de riscos e viabilidade orçamentária, sem limitar o potencial inovador das entregas.

Consequentemente, isso muda a percepção da área de compras dentro da empresa. De “departamento que só corta custos”, passa a ser visto como parte fundamental do sucesso dos projetos estratégicos.

Como integrar procurement e áreas criativas na prática

Para criar sinergia entre compras e áreas como marketing, inovação ou comunicação, é necessário cultivar uma cultura colaborativa. A primeira etapa é romper com o modelo silo, onde cada área age de forma independente. Reuniões conjuntas, workshops de alinhamento e treinamentos específicos para compradores sobre o universo criativo podem acelerar esse processo.

Em paralelo, utilizar ferramentas colaborativas (como plataformas de gestão de projetos e contratos) permite visibilidade mútua do andamento dos processos, reduz ruídos de comunicação e fortalece a transparência entre os times envolvidos.

Tendências para o futuro do procurement criativo

À medida que as organizações se tornam mais digitais, o papel dos serviços criativos se intensifica. Com isso, surgem novas oportunidades e exigências para as áreas de procurement. Plataformas automatizadas de sourcing, marketplaces de talentos criativos, contratos baseados em performance e modelos ágeis de contratação serão cada vez mais comuns.

Simultaneamente, cresce a importância da diversidade e inclusão na escolha de fornecedores, da sustentabilidade dos serviços prestados e da ética nos contratos criativos. Essas pautas já impactam grandes empresas e, em breve, farão parte do escopo de exigência em licitações e processos seletivos de fornecedores.


Considerações finais

O procurement de serviços criativos e intangíveis representa uma fronteira estratégica para profissionais de compras que desejam ampliar seu impacto nas organizações. Apesar dos desafios inerentes à subjetividade desses serviços, é possível aplicar boas práticas, criar métricas adaptadas e desenvolver parcerias de alto valor.

Assim, ao invés de apenas adquirir serviços, o comprador se transforma em um agente de transformação dentro da empresa, contribuindo ativamente para projetos que moldam a percepção da marca, impulsionam a inovação e geram vantagem competitiva sustentável.


Leituras complementares


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