+55 (31) 9 9955 -3132 pessoa@carlospessoa.com.br

O mito da modernização Procurement

Compras mudou ou só ganhou mais jargão

A essência do procurement ao longo da história

Desde os primeiros registros de trocas comerciais, a atividade de compras surgiu como função essencial para garantir a sobrevivência das comunidades. Povos antigos precisavam obter alimentos, matérias-primas e instrumentos, ainda que em contextos rudimentares. Com o tempo, essa prática foi se consolidando dentro de impérios, governos e organizações, evoluindo em processos documentados e regras mais claras. Apesar do avanço tecnológico e da globalização, a lógica fundamental permanece: adquirir o necessário pelo melhor custo possível, mantendo qualidade e confiabilidade.

O peso da tecnologia no discurso corporativo

Nas últimas décadas, ferramentas digitais invadiram os departamentos de compras, prometendo transformar completamente a rotina. Sistemas de gestão integrados, plataformas de e-procurement e inteligência artificial começaram a ser incorporados ao vocabulário dos gestores. Porém, muitos relatam que, embora esses recursos tragam eficiência, não alteram a essência do trabalho. O resultado prático costuma se resumir a relatórios mais sofisticados, mas com as mesmas decisões que já eram tomadas de forma manual.

Quando o jargão substitui a prática

Um dos fenômenos mais comuns é a adoção exagerada de terminologias em inglês ou siglas que nem sempre agregam valor real. Expressões como “SRM”, “TCO” ou “Strategic Sourcing” muitas vezes são usadas mais para demonstrar modernidade do que para orientar resultados concretos. Esse excesso de nomenclaturas cria barreiras de comunicação entre equipes e até entre gestores de diferentes níveis. A prática de negociar, comparar preços, avaliar prazos e monitorar fornecedores continua existindo, apenas envolta em um vocabulário mais sofisticado.

A ilusão das métricas excessivas

Indicadores de desempenho são importantes para medir eficiência, mas, quando usados em excesso, podem desviar o foco das entregas. Diversos profissionais se veem presos em reuniões intermináveis discutindo KPIs complexos, enquanto fornecedores enfrentam atrasos e contratos exigem renegociação. Essa situação evidencia que, em muitos casos, a modernização trouxe mais dados do que soluções. O esforço deveria estar em transformar números em insights práticos, não em multiplicar gráficos sem utilidade real.

O papel do relacionamento humano

Mesmo em um cenário cada vez mais digital, o relacionamento entre comprador e fornecedor continua sendo determinante para o sucesso. Empresas que investem em confiança, transparência e parceria obtêm melhores resultados de longo prazo. A negociação face a face, ainda que mediada por contratos digitais, mantém um peso que tecnologia nenhuma substitui. Isso reforça a ideia de que modernização sem pessoas preparadas e capazes de dialogar é apenas um verniz.

Custos versus valor agregado

A modernização frequentemente promete redução drástica de custos por meio de automação. Entretanto, quando se analisa a fundo, os maiores ganhos continuam vindo de práticas tradicionais: renegociação de contratos, análise de mercado e revisão de especificações. Softwares sofisticados apoiam essas iniciativas, mas não são capazes de substituir a expertise dos profissionais. O verdadeiro valor surge do equilíbrio entre ferramentas digitais e conhecimento humano aplicado ao contexto da empresa.

CONTINUA….

Curso compradores Estratégias de negociação e “posicionamento”

Sustentabilidade como novo discurso

Nas últimas décadas, o termo sustentabilidade tornou-se obrigatório em qualquer apresentação de compras. Porém, em muitas organizações, a palavra ainda aparece mais como jargão do que como prática concreta. Companhias divulgam compromissos ambientais, mas seguem contratando fornecedores sem critérios claros de impacto social ou ambiental. Essa discrepância demonstra como, em alguns casos, a modernização se resume a novos slogans em relatórios anuais, sem mudanças consistentes no dia a dia.

A força da simplicidade operacional

Processos de compras sempre se beneficiaram da objetividade. Saber quem fornece, quanto custa e quando entregar continua sendo a base de qualquer operação eficiente. A introdução de camadas tecnológicas deveria simplificar essa lógica, mas muitas vezes acontece o contrário. Profissionais se veem obrigados a navegar por sistemas lentos, cheios de campos obrigatórios, para realizar tarefas que poderiam ser resolvidas em minutos. A busca pela sofisticação acaba retirando a agilidade.

O risco da dependência tecnológica

Automação pode gerar ganhos significativos, mas também cria vulnerabilidades. Empresas que centralizam toda a sua operação em um único sistema correm riscos altos em caso de falhas, ataques cibernéticos ou mudanças contratuais com fornecedores de software. Em contrapartida, organizações que mantêm processos híbridos e flexíveis conseguem reagir com maior rapidez. A modernização, quando mal planejada, transforma eficiência em dependência perigosa.

Competências humanas insubstituíveis

Mesmo com machine learning e algoritmos capazes de sugerir cenários de compra, o julgamento crítico de um especialista ainda é indispensável. Entender nuances de mercado, avaliar riscos geopolíticos e interpretar comportamentos de fornecedores exige sensibilidade. Esse conjunto de competências não pode ser reproduzido apenas com dados. O excesso de confiança em ferramentas digitais tende a reduzir a autonomia dos profissionais, tornando-os meros operadores de sistemas.

Desafios da comunicação interna

Outro aspecto pouco discutido é a forma como o discurso da modernização impacta a comunicação entre departamentos. Finanças, operações, logística e compras precisam conversar em uma linguagem comum para alinhar estratégias. Contudo, a adoção de termos técnicos sofisticados pode afastar colaboradores de outras áreas, que deixam de compreender claramente as metas do setor. A clareza, portanto, deve ser prioridade em qualquer tentativa de atualização.

O equilíbrio entre inovação e tradição

Inovar é fundamental para acompanhar mudanças de mercado, mas não significa abandonar práticas que comprovadamente funcionam. A renegociação direta com fornecedores locais, por exemplo, continua sendo uma das maiores fontes de economia. Ao mesmo tempo, análises automatizadas de consumo ajudam a antecipar rupturas de estoque. O verdadeiro avanço acontece quando tecnologia complementa a tradição, sem tentar apagá-la.

A pressão por resultados imediatos

Muitas iniciativas de modernização surgem como resposta à pressão por ganhos rápidos. Diretores e investidores buscam demonstrar evolução constante, o que gera projetos apressados, sem reflexão sobre impacto real. Nesse contexto, plataformas são implementadas sem treinamento adequado ou integração completa. O resultado acaba sendo frustração, desperdício e retorno limitado. A pressa em parecer moderno pode custar caro.

Caminhos para uma modernização efetiva

Para que a modernização de compras seja mais do que discurso, algumas ações são essenciais. Primeiramente, compreender a realidade da organização e adaptar soluções ao contexto. Em seguida, priorizar simplicidade e clareza nos processos. Além disso, investir em capacitação de equipes para que dominem tanto ferramentas digitais quanto técnicas tradicionais de negociação. Dessa forma, evita-se o risco de criar apenas mais camadas de jargão corporativo.

Conclusão: modernizar não é complicar

Ao analisar o cenário de compras e suprimentos, percebe-se que a essência da função permanece praticamente inalterada desde seus primórdios. O que muda são as ferramentas, os relatórios e as palavras utilizadas para descrever atividades que continuam as mesmas. A verdadeira modernização não deve ser medida pela quantidade de jargões, mas sim pela capacidade de entregar valor de forma simples, eficiente e sustentável. O desafio, portanto, é lembrar que sofisticar sem propósito pode ser apenas uma forma de mascarar o óbvio.


Leituras complementares


💬 Agora me conta:

 Comente aqui embaixo: quais são os maiores desafios de eficiência na sua rotina de compras?