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O mito da IA salvadora no Procurement

No atual cenário de tecnologia e automação nas áreas de compras e suprimentos, muitos gestores apostam cegamente na inteligência artificial como panaceia. Contudo, essa crença rasga o véu da ilusão: o problema não é a IA em si, mas quem acha que ela sozinha vai “salvar” o procurement. Este post aprofunda essa ideia com perspectiva crítica, embasamento prático e sugestões para usar IA com lucidez.


O hype da IA no procurement

A promessa de que a IA resolverá todos os problemas em compras surge com frequência em webinars, artigos e posts no LinkedIn. “Agentic AI”, “autonomous agents”, “autosourcing inteligente” — termos glamorosos vendem soluções mágicas. Porém, muitos desses discursos ignoram a complexidade real de processos de sourcing, contratos, gestão de riscos e relacionamento com fornecedores.

Organizações já enfrentam falhas de automações robustas: integração mal feita com ERPs antigos, baixo grau de maturidade de dados, equipes despreparadas para interpretar resultados automatizados. Quando se encara a realidade operacional, fica claro que IA não atua no vazio — ela depende muito do contexto e do conhecimento humano que o precede.

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Curso compradores Estratégias de negociação e “posicionamento”

Por que muitos projetos de IA falham

Antes de considerar IA como solução universal, é essencial conhecer os fatores que afundam iniciativas promissoras:

  • Qualidade de dados precária
    A IA só performa bem quando alimentada por dados limpos, estruturados e confiáveis. Se histórico de compras, contratos e performance de fornecedores estiverem incompletos ou inconsistentes, os resultados serão erráticos.

  • Integração deficiente com sistemas legados
    Muitos ERPs ou módulos antigos não suportam fluxo de dados em tempo real, APIs modernas ou arquiteturas flexíveis, gerando silos que impedem a IA de interagir de verdade.

  • Expectativas irreais de retorno imediato
    Alguns líderes enxergam a IA como milagre instantâneo — “coloca-se e fica funcionando”. Mas o retorno exige ajustes, calibrações, aprendizado incremental, revisões de processos e governança.

  • Resistência cultural e medo de perda de controle
    Profissionais têm lógica de mitigar risco e manter controle. Quando a automação surge como caixa preta, gera desconfiança e rejeição — especialmente em compras, onde contratos e valores altos estão envolvidos.

  • Falta de domínio do domínio (domain expertise)
    Ferramentas sofisticadas não substituem expertise de quem vive os ciclos de negociação, lead time, logística reversa, performance de fornecedores. Sistemas podem sugerir, mas quem decide precisa conhecer os detalhes.

  • Custos ocultos e manutenção contínua
    IA demanda investimento contínuo: ajustes de modelo, governança de dados, atualizações conforme variáveis de mercado mudam. Ignorar isso significa projetar deterioração gradual.


O papel humano que a IA não substitui

Para profissionais de compras efetivos, a IA é uma ferramenta, não um piloto automático. Eis o que permanece inigualável ao elemento humano:

  • Tomada de decisão fora da curva
    Casos excepcionais ou rupturas de mercado exigem reflexão estratégica, análise de contexto político, troca de fornecedores emergenciais — situações raramente previstas por modelo.

  • Interpretação de resultados e explicações eventuais
    Quando a IA aponta sugestões, cabe ao gestor questionar por que, ajustar hipóteses ou entender viéses embutidos.

  • Negociação com fornecedores
    Relações de confiança, flexibilidade, cláusulas específicas ou customizações difíceis de formalizar via input automatizado envolvem humanos.

  • Ajustes de estratégia e adaptação rápida
    Mudanças súbitas — pandemia, guerra, bloqueios logísticos, embargo — exigem revisões drásticas de estratégia. IA demora a se recalibrar sem orientação humana.

  • Ética, compliance e controle regulatório
    Decisões automatizadas podem gerar vieses, riscos de conformidade ou decisões controversas. Humano precisa supervisionar.


1. Como usar IA com senso prático

Para evitar decepções e maximizar valor, adote postura pragmática:

2. Comece com casos de uso pontuais

Não tente reinventar tudo de uma vez. Inicie por funções como extração automática de dados de contratos (OCR), classificação de gastos ou alertas de compliance menores.

3. Invista em maturidade de dados

Normalize histórico, crie dicionários de dados, padronize categorias, limpe duplicatas. Quando os dados forem confiáveis, a IA entrega valor mais previsível.

4. Envolva especialistas de compras no projeto

Não deixe a IA ser “decidida pelo TI” sozinha. Profissionais de suprimentos devem participar do desenho, validação e refinamento do modelo.

5. Implemente governança rigorosa

Defina limites de atuação da IA, processos de revisão humana, monitoramento constante de performance e métricas de falhas.

6. Treine equipes para pensar junto

Capacite analistas e gestores a interpretar sugestões, questionar saídas, ajustar parâmetros. Faça da IA assistente, não substituta.

7. Monitore resultados com realismo

Avalie ganhos incrementalmente (tempo economizado, erros evitados, decisões melhores), mas multiplique com iteração contínua.


Casos que ilustram o dilema

Imagine uma empresa global que implantou IA para negociação de contratos repetitivos: esperava redução drástica de custo, mas sofreu com cláusulas mal compreendidas, fornecedores rejeitando alterações automáticas, e falta de domínio sobre exceções contratuais. A solução veio com intervenção manual — revisar ajustes finos e trazer de volta o elemento humano.

Outro cenário: ferramenta automatizada sugeriu substituir fornecedor A por fornecedor B com preço 5% melhor. Contudo faltava avaliar risco de ruptura, capacidade logística ou compliance. A decisão automatizada quase gerou atraso grave num componente crítico. Sem supervisão humana, a IA falhou por ignorar contexto.

Esses exemplos mostram que IA funciona bem no terreno estável, previsível. Quando emergem rupturas, novidades, exceções, é o operador humano que segura.


Mitos comuns e correções

Mito Realidade
“IA eliminou 80% do trabalho analítico” Pode automatizar tarefas repetitivas, mas ainda exige supervisão e revisão.
“IA vai substituir o gestor de compras” Substitui parte operacional, mas não criações estratégicas ou decisões em exceção.
“Só basta instalar e rodar” Requer customização, integração e ajustes contínuos.
“Resultados visíveis em 30 dias” ganhos costumam aparecer gradualmente, em ciclos de maturação.

Recomendações para líderes de comprasClareza em objetivos: não adote IA apenas por modismo, mas por metas específicas (reduzir erro, acelerar ciclo, melhorar compliance).

  1. Padrões mínimos de dados: invista em data quality e em cultura de domínio compartilhado.
  2. Pós-prova de conceito bem estruturada: teste em ambiente controlado antes de escalar.
  3. Riscos e governança integrados: defina limites, revisões, auditorias humanas obrigatórias.
  4. Comunicação transparente: envolva equipes, mostre limitações e ajuste expectativas.

Conclusão

A inteligência artificial pode, sim, transformar partes do processo de compras e suprimentos. Contudo, tratá-la como “salvadora” é um erro perigoso. Essa crença ignora variáveis complexas da operação, subestima o papel de especialistas e promove soluções mal calibradas.
Para profissionais de compras que desejam resultados consistentes, o caminho não é abandonar o humano, mas integrá-lo com IA de forma inteligente, crítica e estratégica.
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