Compras empresariais e cenário econômico
O novo peso das decisões econômicas no setor de compras
Nos últimos meses, o cenário econômico brasileiro vem deixando gestores e analistas de compras em alerta. O Banco Central mantém a taxa Selic em patamares elevados, tentando conter uma inflação persistente, enquanto o governo amplia gastos públicos para estimular o consumo e sustentar programas sociais. Essa combinação cria uma pressão silenciosa sobre as empresas, especialmente nas áreas de suprimentos, onde decisões macroeconômicas se traduzem diretamente em custos, prazos e riscos operacionais.
O efeito dominó da política monetária nas cadeias de suprimentos
Quando o Banco Central eleva os juros, a intenção é desacelerar o crédito e reduzir o consumo. Contudo, essa medida impacta a cadeia de suprimentos de forma mais ampla do que parece. Com o custo de capital mais caro, fornecedores diminuem investimentos, empresas postergam aquisições e o fluxo de caixa torna-se mais rígido. Em consequência, os profissionais de compras enfrentam cotações mais voláteis, prazos menos flexíveis e negociações mais complexas para garantir previsibilidade.
A aparente contradição entre Selic alta e economia aquecida
Curiosamente, mesmo com a Selic em 15% ao ano, a atividade econômica continua aquecida. O desemprego segue em níveis baixos, o PIB cresce acima das projeções e o consumo interno resiste. Essa resistência cria um paradoxo para quem atua em suprimentos: os custos de financiamento sobem, mas a demanda por produtos e serviços continua elevada. Assim, os preços não recuam, e as margens continuam pressionadas.
A desconexão entre juros e valorização do real
Tradicionalmente, juros altos valorizam a moeda nacional. Entretanto, o real não tem reagido como esperado. A instabilidade fiscal e a desconfiança em relação às metas de inflação geram fuga de capitais e encarecem as importações. Para o gerente de compras, isso significa insumos importados mais caros, contratos indexados ao dólar sob pressão e maior dificuldade em garantir previsibilidade orçamentária.
O papel do governo e o impacto do gasto público
Paralelamente, o aumento dos gastos públicos tem efeito contrário à política monetária restritiva. Enquanto o Banco Central tenta conter a inflação, o governo injeta liquidez no mercado. Esse conflito de estratégias cria incerteza, alimenta a desancoragem das expectativas e afeta a confiança empresarial. Para os times de suprimentos, o resultado é um ambiente de volatilidade constante — onde planejar compras de longo prazo torna-se um exercício de resiliência e adaptação.
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