+55 (31) 9 9955 -3132 pessoa@carlospessoa.com.br

O Comprador e a negociação por valor

Como sair do preço e entrar na estratégia


Por que alguns compradores conseguem mais do que apenas preços baixos, enquanto outros ficam presos à mesa de negociação discutindo centavos? A resposta está no conceito de negociação por valor, uma abordagem estratégica que redefine a forma como empresas se relacionam com fornecedores, ampliando resultados muito além da economia imediata.

Neste artigo, vamos entender por que o comprador moderno precisa evoluir do papel operacional para se tornar um verdadeiro gestor estratégico de valor. Também vamos explorar práticas, habilidades e mudanças de mindset essenciais para fazer isso acontecer.


A evolução do papel do Comprador

Tradicionalmente, o comprador era visto como um executor de pedidos, alguém que compara cotações e busca o menor preço. No entanto, com o avanço da transformação digital nas empresas, esse perfil deixou de ser suficiente para atender às necessidades do mercado atual.

Além disso, o aumento da complexidade na cadeia de suprimentos exige profissionais capazes de analisar cenários mais amplos, onde o custo total de propriedade (TCO), os riscos operacionais e os impactos indiretos se tornam parte do jogo. É nesse contexto que surge a negociação baseada em valor.


Por que negociar por valor é essencial?

Primeiramente, negociar por valor permite que as empresas obtenham mais do que apenas descontos. Trata-se de criar parcerias sustentáveis, onde ambos os lados ganham — inclusive no longo prazo. Isso envolve analisar o que o fornecedor pode oferecer além do preço: prazos de entrega otimizados, condições logísticas, qualidade técnica, inovação e suporte.

Por exemplo, uma empresa que compra tecnologia não está apenas adquirindo hardware ou software, mas também o know-how, a escalabilidade e a agilidade operacional que o fornecedor pode oferecer. Isso muda completamente o foco da negociação.


Da negociação de preço para a construção de valor

De um lado, o comprador tradicional busca o menor valor possível em contratos. Do outro, o comprador estratégico compreende que o “menor preço” pode custar caro em termos de falhas, retrabalhos e riscos ocultos. Portanto, a transição para uma mentalidade de valor exige considerar aspectos intangíveis.

A gestão de fornecedores deixa de ser um processo isolado e passa a ser integrada com áreas como planejamento, financeiro, qualidade e até marketing. A interdependência entre essas áreas reforça a importância de um olhar sistêmico durante as negociações.


CONTINUA….

Curso compradores Estratégias de negociação e “posicionamento”

O valor além do produto: O que está em jogo?

Em muitas categorias de compra, o produto é apenas uma parte da equação. O valor agregado está em serviços embarcados, SLA de atendimento, flexibilidade de fornecimento e até questões relacionadas à sustentabilidade.

Aliás, muitos fornecedores estão dispostos a ajustar condições contratuais quando percebem que o comprador está comprometido com uma parceria de longo prazo. Com isso, surge um novo poder de barganha: o alinhamento estratégico.


Habilidades fundamentais do comprador estratégico

Contudo, negociar por valor exige novas competências. O profissional de compras precisa desenvolver habilidades como:

  • Análise crítica e visão sistêmica;

  • Capacidade de comunicação e influência;

  • Conhecimento técnico das categorias que gerencia;

  • Empatia para compreender os desafios do fornecedor.

Essas habilidades são complementares à base técnica da área de suprimentos e são cada vez mais valorizadas em processos de recrutamento de alto nível.


Indicadores e métricas de valor: O que medir?

De modo geral, o que não é medido não pode ser gerenciado. Assim, definir KPIs focados em valor é fundamental para justificar decisões e ganhos obtidos em cada negociação. Entre os indicadores mais relevantes estão:

  • Custo total de propriedade (TCO);

  • Índice de satisfação interna com o fornecedor (NPS interno);

  • Tempo de entrega vs. SLA acordado;

  • Redução de retrabalho ou devoluções;

  • Inovação e melhorias contínuas.

Essas métricas ajudam a tornar tangível o que muitas vezes parece subjetivo e reforçam o papel estratégico da área de compras.


Exemplos práticos de negociação por valor

Vamos imaginar uma negociação com uma empresa de logística. Em vez de pedir apenas um desconto no frete, o comprador pode propor uma análise conjunta da malha de distribuição para reduzir custos operacionais dos dois lados. Com isso, ambos ganham eficiência e economizam mais do que seria possível apenas no valor da tabela.

Outra situação: em categorias de facilities, como limpeza e manutenção, pode-se negociar indicadores de desempenho atrelados a bônus ou penalidades, estimulando o fornecedor a manter o padrão de qualidade em alto nível.


O poder do relacionamento com fornecedores

Por outro lado, nenhuma negociação de valor se sustenta sem relacionamento de confiança com fornecedores. Isso exige mais do que contratos bem redigidos: é preciso diálogo constante, revisões periódicas e transparência nos objetivos.

Inclusive, alguns dos melhores resultados em negociações surgem de reuniões de co-criação, onde fornecedor e cliente desenvolvem soluções em conjunto. Esse tipo de parceria eleva o nível de maturidade da área de compras.


Como implementar a cultura de valor na empresa

Naturalmente, a mudança começa pela liderança. Diretores e gerentes precisam incorporar o mindset de valor nas diretrizes da área. Criar treinamentos, incentivar boas práticas e reconhecer resultados qualitativos são passos iniciais essenciais.

Outro ponto é promover a integração entre times de compras e outras áreas, para garantir alinhamento estratégico nas decisões. O comprador deve ser visto como um parceiro do negócio, e não como um simples executor de pedidos.


Ferramentas e tecnologias que apoiam a negociação por valor

Atualmente, plataformas de e-procurement, softwares de spend analysis e dashboards integrados permitem análises mais robustas e negociações baseadas em dados. A tecnologia deixa de ser apenas suporte e passa a ser aliada da estratégia de valor.

Ao mesmo tempo, a inteligência artificial e o machine learning já são usados para prever variações de preços, identificar riscos na cadeia e sugerir oportunidades de economia não óbvias. Isso amplia o campo de atuação dos profissionais de compras.


Obstáculos comuns e como superá-los

Frequentemente, o maior obstáculo está na resistência à mudança. Muitos profissionais ainda se sentem mais confortáveis com negociações lineares e com foco exclusivo no custo. Para superar isso, é fundamental investir em capacitação contínua e mostrar, com exemplos reais, os benefícios da abordagem por valor.

Adicionalmente, criar uma cultura de aprendizado dentro do setor de suprimentos ajuda a acelerar essa virada.


O futuro das compras: Valor como estratégia central

Conforme o ambiente de negócios se torna mais competitivo e volátil, as empresas que conseguirem transformar suas áreas de compras em centros geradores de valor terão vantagem significativa. O comprador que domina a arte da negociação estratégica se torna peça-chave nesse processo.

Não se trata mais apenas de economizar. Trata-se de criar vantagem competitiva.


Conclusão

O comprador do futuro já é uma realidade. Negociar por valor é a habilidade que vai separar os profissionais que crescem daqueles que permanecem estagnados. Mais do que técnica, é uma questão de postura estratégica.

Investir em relacionamento com fornecedores, entender profundamente o que está sendo comprado e enxergar além do preço é o novo padrão de excelência em compras corporativas. E essa mudança já começou.

 

Leituras complementares


💬 Agora me conta:

 Comente aqui embaixo: quais são os maiores desafios de eficiência na sua rotina de compras?